Andar descalço – sim ou não?

Andar descalço – sim ou não?

Fisioterapeuta Bruno Soares
Bruno Soares

Andar descalço pode parecer uma prática incomum e até mesmo desconfortável para muitas pessoas, mas a verdade é que essa prática simples pode trazer uma série de benefícios para a saúde. Estudos científicos mostram que caminhar descalço pode ajudar a fortalecer os músculos e estimular os nervos do pé e tornozelo, melhorar a postura, a mobilidade e reduzir dores nas costas e pescoço.

Ao caminhar calçados, os pés são apoiados por superfícies duras e planas, o que pode levar a uma atrofia dos músculos intrínsecos dos pés. Para além disto, quando usamos calçado, os pés são frequentemente colocados em posições rígidas e limitadas, o que pode também levar a uma perda de flexibilidade e mobilidade. Em contrapartida, andar descalço em diferentes superfícies como chão, areia ou terra, pode ajudar a fortalecer os músculos intrínsecos do pé, melhorando a estabilidade e o equilíbrio. Pode também ajudar a estimular as articulações dos pés e tornozelos, aumentando a flexibilidade e reduzindo o risco de lesões nessa região.

Crianças descalças

Isto torna-se especialmente importante no caso das crianças, para que ocorra um desenvolvimento da arcada plantar mais saudável. A arcada plantar é a curvatura natural do pé, composta pelos ossos, músculos, tendões e ligamentos que ajudam na absorção de choques e suportam o peso corporal. Quando uma criança anda descalça, essas estruturas são colocadas sob diferentes stresses, ajudando a fortalecer e desenvolver os músculos e a estrutura óssea do pé.

O que nos dizem os estudos:

O uso de sapatos em crianças pequenas pode prejudicar o desenvolvimento da arcada plantar. Isso ocorre porque os sapatos podem limitar o movimento natural do pé e a absorção de impacto, levando a fraqueza dos músculos e ossos do pé, contribuindo para uma maior incidência de deformidades, como pé chato ou pé cavo. Andar descalço pode ajudar a prevenir essas deformidades, pois permite que a criança sinta a superfície que pisa e use naturalmente os músculos e ossos do pé para equilibrar o peso corporal.

Adultos descalços – esta prática também é importante nos adultos. Caminhar descalço pode ajudar a melhorar a sensibilidade e a propriocepção dos pés porque permite que as terminações nervosas presentes na planta do pé sejam estimuladas. Quando andamos descalços, os pés entram em contato direto com a superfície, permitindo que as terminações nervosas recebam informações táteis sobre a textura, temperatura e pressão da superfície em que pisamos. Isso ajuda a aumentar a percepção e a sensibilidade dos pés, o que é importante para a coordenação motora e o equilíbrio.

Está cientificamente provado que: a estimulação das terminações nervosas dos pés pode ter efeitos positivos em outras partes do corpo, como a melhoria da postura e da estabilidade do tronco pela melhoria da ativação muscular. Isto pode ser útil para pessoas que precisam de uma melhor coordenação motora, como atletas e bailarinos, mas também em pessoas que passam muitas horas do seu dia sentadas e que sofrem de dores nas costas e pescoço devido à falta de atividade física e à postura inadequada.

Outra vantagem de andar descalço é a possibilidade de melhorar a circulação sanguínea nos pés. Quando caminhamos descalços, os músculos e nervos dos pés ao serem ativados, ajudam a melhorar a circulação sanguínea nessa região. Isso pode ser especialmente útil para pessoas que sofrem de problemas circulatórios, como varizes.

É importante lembrar que, embora caminhar descalço traga benefícios à saúde, é importante fazê-lo com cuidado e sempre observando a superfície que se pisa, para evitar lesões e contaminações. É recomendado começar com caminhadas curtas em superfícies macias e limpas, e aumentar gradualmente a intensidade e duração das caminhadas.

Como fisioterapeuta

Eu próprio trabalho frequentemente descalço e recomendo essa prática a muitos dos meus pacientes. No entanto, é importante lembrar que cada pessoa é única e pode ter necessidades e limitações específicas. Por isso, é importante consultar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer prática física.

Referências:
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Ricardo, D. R., Almeida, G. P. L., Caldas, R., & Figueiredo, P. (2017). Proprioceptive and cognitive abilities improve independently with unsupervised proprioceptive training in healthy older adults. Experimental gerontology, 100, 31-40.
Sahrmann, S. A., Norton, B. J., & Caldwell, C. A. (2017). Diagnosis and Treatment of Movement Impairment Syndromes-E-Book. Elsevier Health Sciences.
Shultz, S. P., Song, J., Kras, J., Menon, C., & Chopra, S. (2016). A kinematic and kinetic analysis of the lower limb during barefoot and shod running in habitual barefoot runners. Journal of sports sciences, 34(17), 1740-1746.
Takatori, T., Suetake, T., Inoue, R., & Ohkawara, K. (2019). Acute effects of barefoot walking on vascular function and antioxidant capacity in young adults. Journal of sports sciences, 37(1), 58-64.

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