Cicatrizes – já cuidou das suas?
Quem é que não tem, em alguma parte do seu corpo, uma cicatriz na pele decorrente de uma lesão, queimadura ou um processo cirúrgico?
Em todo o mundo, diariamente, milhões de pessoas desenvolvem cicatrizes que, em muitos casos, podem vir a trazer efeitos estéticos, físicos, socias e psicológicos muito indesejados apresentando um impacto negativo na qualidade de vida das pessoas.
A formação da cicatriz é a consequência natural de um complexo processo de reparação tecidular que ocorre nos mamíferos após uma lesão.
Este processo divide-se em três fases: a fase inflamatória, a proliferativa e a de remodelação.
1- Na primeira fase, ocorre uma rápida resposta inflamatória no organismo para evitar infeções e outras lesões;
2- Na fase proliferativa, forma-se uma nova barreira funcional;
3- Na de remodelação, ocorre a formação de tecido cicatricial e esta fase pode-se estender até aos 2 anos após lesão.
O objetivo ideal na recuperação de cada lesão é a restauração da arquitetura e função dos tecidos lesionados, com a formação de uma cicatriz fina e com o mínimo de fibrose.
Contudo, em muitas lesões e processos cirúrgicos, pode ocorrer um conjunto de fatores que provocam uma produção excessiva de tecido cicatricial. Nestes casos, as cicatrizes podem-se tornar patológicas, podendo causar hipersensibilidade local, prurido severo, dor, distúrbios do sono, depressão, ansiedade e défices de funcionalidade.
Entre os fatores que podem alterar o normal processo de cicatrização encontram-se:
- processos infeciosos
- cicatrizes cirúrgicas que exercem muita tensão na pele
- lesões muito extensas
- localização anatómica em áreas de maior tensão (ex. ombros, pescoço, etc.)
- fototipo da pele
- …
Qual o papel da Fisioterapia?
A Fisioterapia tem um papel muito importante na manutenção da integridade do sistema tegumentar – a nossa pele – não só na componente estética como também na sua funcionalidade.
O fisioterapeuta avalia as características físicas da cicatriz (flexibilidade, aderências aos planos profundos), a sua aparência (cor, alterações estéticas) e os sintomas do paciente (dor, prurido). Após avaliação, o profissional, através de técnicas específicas, atua nas várias fases do processo de cicatrização e mesmo depois, em casos de cicatrizes mais antigas.
O objetivo do tratamento é restaurar não só a aparência da pele como também a sua função e mobilidade. Está amplamente comprovado pela comunidade científica que a abordagem física das cicatrizes tem um efeito muito positivo na melhoria da dor, pigmentação, prurido, flexibilidade, grossura e aparência das mesmas.
Não devemos desvalorizar que, em alguns casos, as cicatrizes penetram mais profundamente para além da nossa pele (ex. intervenções cirúrgicas, lesões graves). Nesse sentido, é de particular importância, avaliar e tratar cuidadosamente a aderência da cicatriz, que é definida como a dificuldade dos tecidos de deslizarem sobre os tecidos mais profundos. Isto porque cicatrizes aderentes podem significar um conjunto de problemas clínicos como, por exemplo, alterações de sensibilidade e limitação da força muscular e do movimento articular localmente e à distância.
“As cicatrizes podem deixar uma marca não apenas estética, mas também emocional e funcional para o resto das nossas vidas”.
As cicatrizes não devem ser desvalorizadas, devemos cuidar delas desde cedo e na dúvida ou na presença de algum dos sintomas acima referidos, contactar um profissional de confiança para compreender qual a melhor abordagem para as melhorar.
Referências
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