Cicatrizes – já cuidou das suas?

Cicatrizes – já cuidou das suas?

Yanina Alves - Fisioterapeuta e Coordenadora
Yanina Alves – Fisioterapeuta e Coordenadora

Quem é que não tem, em alguma parte do seu corpo, uma cicatriz na pele decorrente de uma lesão, queimadura ou um processo cirúrgico?

Em todo o mundo, diariamente, milhões de pessoas desenvolvem cicatrizes que, em muitos casos, podem vir a trazer efeitos estéticos, físicos, socias e psicológicos muito indesejados apresentando um impacto negativo na qualidade de vida das pessoas.

A formação da cicatriz é a consequência natural de um complexo processo de reparação tecidular que ocorre nos mamíferos após uma lesão.

Este processo divide-se em três fases: a fase inflamatória, a proliferativa e a de remodelação.

1- Na primeira fase, ocorre uma rápida resposta inflamatória no organismo para evitar infeções e outras lesões;

2- Na fase proliferativa, forma-se uma nova barreira funcional;

3- Na de remodelação, ocorre a formação de tecido cicatricial e esta fase pode-se estender até aos 2 anos após lesão.

O objetivo ideal na recuperação de cada lesão é a restauração da arquitetura e função dos tecidos lesionados, com a formação de uma cicatriz fina e com o mínimo de fibrose.

Contudo, em muitas lesões e processos cirúrgicos, pode ocorrer um conjunto de fatores que provocam uma produção excessiva de tecido cicatricial. Nestes casos, as cicatrizes podem-se tornar patológicas, podendo causar hipersensibilidade local, prurido severo, dor, distúrbios do sono, depressão, ansiedade e défices de funcionalidade. 

Entre os fatores que podem alterar o normal processo de cicatrização encontram-se:

  • processos infeciosos
  • cicatrizes cirúrgicas que exercem muita tensão na pele
  • lesões muito extensas
  • localização anatómica em áreas de maior tensão (ex. ombros, pescoço, etc.)
  • fototipo da pele

Qual o papel da Fisioterapia?

A Fisioterapia tem um papel muito importante na manutenção da integridade do sistema tegumentar – a nossa pele – não só na componente estética como também na sua funcionalidade. 

O fisioterapeuta avalia as características físicas da cicatriz (flexibilidade, aderências aos planos profundos), a sua aparência (cor, alterações estéticas) e os sintomas do paciente (dor, prurido). Após avaliação, o profissional, através de técnicas específicas, atua nas várias fases do processo de cicatrização e mesmo depois, em casos de cicatrizes mais antigas. 

O objetivo do tratamento é restaurar não só a aparência da pele como também a sua função e mobilidade. Está amplamente comprovado pela comunidade científica que a abordagem física das cicatrizes tem um efeito muito positivo na melhoria da dor, pigmentação, prurido, flexibilidade, grossura e aparência das mesmas. 

Não devemos desvalorizar que, em alguns casos, as cicatrizes penetram mais profundamente para além da nossa pele (ex. intervenções cirúrgicas, lesões graves). Nesse sentido, é de particular importância, avaliar e tratar cuidadosamente a aderência da cicatriz, que é definida como a dificuldade dos tecidos de deslizarem sobre os tecidos mais profundos.  Isto porque cicatrizes aderentes podem significar um conjunto de problemas clínicos como, por exemplo, alterações de sensibilidade e limitação da força muscular e do movimento articular localmente e à distância. 

“As cicatrizes podem deixar uma marca não apenas estética, mas também emocional e funcional para o resto das nossas vidas”.

As cicatrizes não devem ser desvalorizadas, devemos cuidar delas desde cedo e na dúvida ou na presença de algum dos sintomas acima referidos, contactar um profissional de confiança para compreender qual a melhor abordagem para as melhorar. 

Referências
Deflorin, Carlina, et al. “Physical management of scar tissue: a systematic review and meta-analysis.” The Journal of Alternative and Complementary Medicine 26.10 (2020): 854-865.
Giorgio Ferriero, et al. ” Validation of a New Device to Measure Postsurgical Scar Adherence”, Physical Therapy 90. 5 (2010) : 776–783.
Goodarzi, Azadeh, et al. “Acne scar; a review of classification and treatment.” J Crit Rev 7.5 (2020): 815-823.
Valouchová, Petra, and Karel Lewit. “Surface electromyography of abdominal and back muscles in patients with active scars.” Journal of Bodywork and Movement Therapies 13.3 (2009): 262-267.

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