“Esclerose Múltipla não é desistir, é persistir”

“Esclerose Múltipla não é desistir, é persistir”

Fisioterapeuta Joana Saavedra
Joana Saavedra

Dedico este artigo a todos os nossos pacientes com Esclerose Múltipla e que são, todos, um exemplo de como a forma como encaramos a doença faz a diferença. Em especial à minha querida paciente “MR”, recentemente diagnosticada e cuja força e atitude provam que nenhum diagnóstico nos define nem sentencia. O título deste artigo foi sugestão sua e não poderia ser mais inspirador.

O que é a Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença crónica, autoimune, inflamatória e degenerativa, que afeta o sistema nervoso central (SNC), ou seja, o encéfalo e a medula espinhal. Assim, o que acontece é que o sistema imunitário ataca, erradamente, o SNC, nomeadamente a bainha de mielina. A função desta bainha é rodear, alimentar, proteger e isolar eletricamente os neurónios, permitindo uma transmissão rápida dos impulsos nervosos. Desta forma, ao ocorrer destruição da bainha de mielina (desmielinização) a função das células nervosas e da comunicação entre elas fica afetada. Este “ataque” pode acontecer em qualquer local do SNC e em extensão variável. 

Em termos estatísticos

A EM é mais comum no sexo feminino, em idades compreendidas entre os 20 e os 40 anos, e é mais comum em habitantes dos países do norte da Europa ou em descendentes dos mesmos. Em Portugal, estima-se que existam cerca de 8.000 pessoas com EM (OMS).

A causa exata da EM ainda não é conhecida

Atualmente, sabe-se que poderá estar relacionada com uma interação entre uma componente genética e fatores ambientais. Alguns estudos encontraram uma relação entre infeções virais (nomeadamente, o vírus Epstein-Barr), défices vitamínicos (vitamina D) e exposição a toxinas e o aumento do risco de desenvolver a doença. 

Como se diagnostica a Esclerose Múltipla?

Com base nas manifestações clínicas, lesões encontradas em Ressonância Magnética e na análise ao líquido cefalorraquidiano (por punção lombar). No entanto, apesar dos critérios clínicos descritos, o diagnóstico da doença é muitas vezes desafiante devido à diversidade de sintomas que podem aparecer e à falta de um teste único com sensibilidade e especificidade apropriada para um diagnóstico preciso.

Os sintomas mais comuns são:

fadiga, dormência e/ou formigueiros nos membros, fraqueza muscular e/ou espasmos, alterações na coordenação, défice de equilíbrio, problemas visuais e/ou da fala, compromisso cognitivo, entre outros.

É importante que, sempre que seja identificado algum sinal ou sintoma fora do normal ou sem explicação, procure ajuda médica!

A Esclerose Múltipla pode ser classificada segundo o padrão de evolução da doença. Dividindo-se em:

Recidivante Remitente (RRMS), que é a forma mais comum (85%) e se carateriza por surtos ou recidivas periódicas seguidas de remissão parcial ou total dos sintomas;

Secundária Progressiva (SPSM), cerca de 50% dos indivíduos de RRMS evoluem para esta forma. Neste caso, ocorre uma progressão constante dos sintomas, com ou sem surtos ocasionais e as recidivas tornam-se menos frequentes e menos pronunciadas;

Existem, ainda, mais duas formas de esclerose múltipla, representando menos de 15% da população diagnosticada com a doença, nomeadamente, a Esclerose Múltipla Primária Progressiva (PPMS) e a Progressiva-Recidivante (RPMS). 

Viver com esclerose múltipla pode ser desafiante, mas com o tratamento e suporte adequado, muitas pessoas com a doença podem viver uma vida normal e ativa. 

É importante que os indivíduos sejam acompanhados por uma equipa multidisciplinar – Neurologista, Médico de Família, Fisioterapeuta, Nutricionista, Psicólogo, Terapeuta da Fala, entre outros -, que aborde as suas necessidades e objetivos específicos.

Dentro dessa equipa, o fisioterapeuta irá avaliar, diagnosticar funcionalmente, para que em conjunto com o paciente se possam identificar os principais problemas e estabelecer um plano de reabilitação com objetivos específicos, alcançáveis e relevantes, reavaliando e registando a evolução sempre ao longo do tempo. 

Geralmente, os principais pontos a trabalhar num paciente diagnosticado com Esclerose Múltipla são:

Educação e orientação acerca da sua condição;
Estabilidade;
Mobilidade e flexibilidade;
Força muscular e resistência;
Coordenação;
Equilíbrio;
Marcha;
Recomendação/adaptação de ajudas técnicas;
Gestão de fadiga e/ou dor.

É crucial destacar que receber um diagnóstico não é o fim da linha! Existem especialistas dedicados a ajudá-lo a ter uma vida mais plena e saudável. Não hesite em procurar apoio e orientação! 

Referências:
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Campbell, Evan, et al. “Physiotherapy rehabilitation for people with progressive multiple sclerosis: a systematic review.” Archives of physical medicine and rehabilitation 97.1 (2016): 141-151.
Corvillo, Iluminada, et al. “Efficacy of aquatic therapy for multiple sclerosis: a systematic review.” European journal of physical and rehabilitation medicine 53.6 (2017): 944-952.
Etoom, Mohammad PT, PhD; Khraiwesh, Yazan PT, MSc; Lena, Francesco PT, PhD; Hawamdeh, Mohannad PT, PhD; Hawamdeh, Ziad MD, PhD; Centonze, Diego MD, PhD; Foti, Calogero MD, PhD. Effectiveness of Physiotherapy Interventions on Spasticity in People With Multiple Sclerosis: A Systematic Review and Meta-Analysis. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation 97(11):p 793-807, November 2018.
https://spem.pt/esclerose-multipla/
Longo, Dan L.; Reich, Daniel S.; Lucchinetti, Claudia F.; Calabresi, Peter A. (2018). Multiple Sclerosis. New England Journal of Medicine.
Oh, Jiwona; Vidal-Jordana, Angela; Montalban, Xavier. Multiple sclerosis: clinical aspects. Current Opinion in Neurology 31(6):p 752-759, December 2018.
Reynolds, Eric R., et al. “Multiple sclerosis and exercise: a literature review.” Current sports medicine reports 17.1 (2018): 31-35.

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