Exercício físico e a Espondilite Anquilosante

Exercício físico e a Espondilite Anquilosante

Carolina Vieira

Entre as várias patologias que podem afetar a coluna vertebral, e ainda no rescaldo da celebração do Dia Mundial da Coluna Vertebral do passado dia 16 de outubro, hoje destacamos a Espondilite Anquilosante (EA), uma doença reumática crónica, de natureza inflamatória dolorosa e progressiva, que afeta principalmente a coluna vertebral, a caixa torácica e as sacroilíacas (articulações entre o sacro e os ossos ilíacos da bacia). Pode afetar também as articulações periféricas (dos membros) e alguns órgãos.

Esta patologia caracteriza-se pela presença de inflamação nas inserções dos ligamentos e tendões nos ossos que, com o passar do tempo, origina lesões que podem evoluir para calcificação entre cada duas vértebras, levando à sua fixação.

A fusão das articulações da coluna vertebral e das articulações sacroilíacas leva à “anquilose” da coluna, que se torna rígida e deformada, impedindo a mobilização normal.

A Espondilite Anquilosante manifesta-se essencialmente por dores nas costas, principalmente lombares, mais intensas durante a noite, que podem provocar despertares noturnos e que melhoram com o movimento e com o exercício físico.

O outro sintoma mais evidente é a rigidez, com dificuldade na mobilidade da coluna, principalmente de manhã ao acordar, com duração superior a 30 minutos. Podem ocorrer ainda outros sintomas como dor cervical, fadiga, dores nas nádegas e coxas (correspondentes com o trajeto do nervo ciático), que não ultrapassam o joelho; dores na região dos ombros, ancas, joelhos e tornozelos/ calcanhares; tendinites (tendão de Aquiles e rotuliano); sintomas oculares, entre outros.

A doença pode ter uma evolução mais lenta ou mais rápida: cada caso é diferente. Na presença de alguma suspeita deve consultar o seu médico de família que, após avaliação, deverá encaminhá-lo para a especialidade de Reumatologia, visando um diagnóstico rápido e início de tratamento adequado.

Os principais objetivos do tratamento são diminuir a dor e a rigidez, evitar deformações e preservar uma boa função articular e, consequentemente, a mobilidade. A médio e longo prazo, o tratamento tem como finalidade atrasar osdanos estruturais irreversíveis que a doença pode provocar. A fisioterapia, focando o exercício físico e o treino postural, estão na base destes objetivos e aconselha-se a sua prática diária a todas as pessoas com espondilite anquilosante.

Os exercícios visam, sobretudo, a mobilização articular, flexibilidade e fortalecimento muscular, treino postural e exercícios respiratórios, como por exemplo:

1.Respiração: os exercícios respiratórios têm como principal função manter a mobilidade da caixa torácica. Deitado de barriga para cima numa superfície dura, dobrar os joelhos, apoiar os pés e manter os braços relaxados ao longo do tronco. Inspirar fundo pelo nariz e deitar fora pela boca, focando o movimento do peito para cima na inspiração e para baixo na expiração. Repetir 5 vezes.

2. Corrigir a postura: apoiar as costas numa parede, com os pés à largura dos ombros e longe da parede. Encostar a zona lombar, ombros e cabeça à parede e lentamente, deslizar as costas pela parede até atingir a posição de sentado, com os joelhos a 90 graus. Manter durante 10 segundos e voltar à posição inicial. Repetir 3 vezes.

3. Mobilidade da coluna: na posição de quatro apoios, mãos à largura dos ombros, joelhos alinhados com a anca e a coluna na posição neutra. Fazer flexão da coluna, como um “gato assanhado” levando a cabeça para baixo, entre os braços. Fazer o movimento inverso, de extensão da coluna, levantando a cabeça e apontando o peito para a frente. Repetir 5 vezes.

4. Rotações: deitado de barriga para cima numa superfície dura, dobrar as pernas de forma a ficar com os joelhos a apontar para o teto. Braços abertos à altura dos ombros, deixar cair as pernas para um lado, mantendo as costas no chão, voltar à posição inicial e deixar cair para o outro lado. Repetir 10 vezes (5 para cada lado).

5. Dorsais: deitado de barriga para baixo com as pernas esticadas, numa superfície dura. Cotovelos, antebraços e mãos apoiados no chão. Fazer força com os braços para levantar a cabeça e peito até onde conseguir. O objetivo final é olhar em frente, peito para a frente e os braços esticados, mantendo a zona da bacia no chão. Manter esta posição durante 10 segundos e relaxar deitado. Repetir 3 vezes. Nota: pode não conseguir atingir a posição final do exercício nas primeiras repetições, o importante é ir tentando para manter o trabalho de mobilidade da coluna.

6. Alongamento: na posição de quatro apoios, mãos à largura dos ombros, joelhos alinhados com a anca e a coluna na posição neutra, sentar o rabo nos calcanhares e manter os braços esticados à frente, com a cabeça relaxada entre eles. Manter a posição durante 20 segundos, repetir 3 vezes.

É aconselhado realizar os exercícios depois de um banho quente, para atenuar a rigidez e tornar a sua realização mais fácil e eficaz.

A Hidroterapia é uma modalidade terapêutica muito utilizada em patologias reumáticas, como a EA, porque a água, principalmente quando aquecida, ajuda no relaxamento muscular; diminui a fadiga; melhora a circulação sanguínea; diminui o quadro álgico e melhora a função respiratória. Por ser uma atividade de baixo impacto nas articulações, a hidroterapia em água aquecida melhora a amplitude de movimento e potencia os exercícios de fortalecimento muscular, não provocando aumento da dor durante e após.

Ficam ainda alguns conselhos e estratégias para quem tem Espondilite Anquilosante e que podem ajudar na gestão diária dos sintomas:

– Manter uma dieta equilibrada e variada. É importante uma dieta rica em cálcio e o acompanhamento pela

nutrição de forma a controlar o peso e evitar o excesso de peso, que leva à sobrecarga da coluna;

– Evitar períodos de imobilização prolongada (muito tempo na mesma postura) em qualquer posição;

– Durante o dia ter atenção à postura, de pé ou sentado, para que a coluna esteja o mais direita possível;

– O repouso noturno deve ser feito em cama dura, sem almofada e, se possível, de barriga para baixo. Se não tolerar ou não for possível, pode ser feito de costas, também sem almofada, ou com uma almofada pequena, só para apoio do pescoço.

A Espondilite Anquilosante, pelas suas características, pode ter um grande impacto na qualidade de vida das pessoas, tanto fisicamente, nas atividades do dia-a-dia, como emocionalmente, no processo de aceitação da doença e nos relacionamentos. É importante a ligação a associações, por exemplo a Associação Nacional da Espondilite Anquilosante (A.N.E.A), de forma a manter contacto com outras pessoas na mesma condição e aprender estratégias de resolução de problemas.

NOTA: Estima-se que, em Portugal, existam entre 30.000 a 50.000 doentes com Espondilite Anquilosante, sendo o sexo masculino mais afectado, em idade compreendida entre os 15 e os 30 anos.

Referências:
Associação Nacional de Espondilite Anquilosante. (s.d.). Doença: o que é a Espondilite Anquilosante. Obtido de https://www.anea.org.pt/doenca-2/ INCE, Gonca et al. Effects of a Multimodal Exercise Program for People With Ankylosing Spondylitis. Journal Of The American Physical Therapy Association. Adana, p. 924-935. jul. 2006. Lopes, S. (2016). Programas de exercício físico em indivíduos com Espondilite Anquilosante: Determinantes de Qualidade de vida. Porto. Narciso, L. (2012). Manual informativo para o doente com Espondilite Anquilosante. Sociedade Portuguesa de Reumatologia.

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