Dor crónica. A Fisioterapia Aquática pode ajudar?
A dor crónica é definida pela Associação Internacional para o estudo da Dor como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidular real ou potencial”. Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de dor crónica, sendo que destes, 70 a 80 % estão associados a disfunções do foro musculoesquelético, dos quais, os mais comuns são a: dor lombar, dor cervical, osteoartrose da anca e do joelho e fibromialgia.
Tendo um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas, a dor crónica afeta a capacidade funcional e a participação nas atividades do dia a dia, associando-se frequentemente a distúrbios do sono e a fatores psicológicos como depressão e ansiedade. Nesse sentido, a abordagem da dor crónica deve sempre passar por uma equipa multidisciplinar, que avalia e determina quais as abordagens que melhor se adaptam às queixas e limitações de cada indivíduo. Entre as várias abordagens terapêuticas disponíveis e recomendadas pelas guidelines internacionais, a fisioterapia aquática tem-se destacado como uma opção eficaz na gestão e tratamento da dor crónica de origem musculoesquelética. A fisioterapia aquática, também conhecida como hidroterapia, pode ser feita em grupo ou de forma individual e consiste na aplicação de técnicas específicas de fisioterapia e na realização de exercícios terapêuticos no meio aquático. Aproveitando as propriedades físico-químicas da água (p.e pressão hidrostática e flutuabilidade), fazer exercício neste ambiente proporciona uma série de vantagens únicas que podem ser particularmente benéficas na redução da perceção do limiar de dor em indivíduos com dor crónica.
Dentre os vários benefícios, destacam-se:
A melhoria da mobilidade, flexibilidade e da força muscular: ao permitir movimentos mais livres, a água é especialmente benéfica para pessoas com condições que limitam a mobilidade. A resistência suave da água ajuda a aumentar a amplitude de movimento e, consequentemente, a flexibilidade. Para além disto, oferece uma forma eficaz de fortalecer os músculos sem causar impacto negativo nas articulações.
A redução da fadiga e aumento do bem-estar geral: A dor crónica está frequentemente associada à fadiga. Os exercícios aquáticos podem aumentar os níveis de energia e reduzir a sensação de cansaço, melhorando a capacidade dos pacientes de realizar atividades diárias. Para além disto, tem efeitos calmantes, ajudando a reduzir o stress e a ansiedade.
A redução da dor: as propriedades físicas da água, junto com a sua temperatura, reduzem a pressão sobre as articulações, promovendo o relaxamento muscular e consequentemente, a redução da dor durante e após o exercício.
Posto isto, a avaliação do paciente por parte do fisioterapeuta, antes de iniciar a fisioterapia aquática, é de extrema importância para garantir a segurança e a eficácia do tratamento. Este processo permitirá ao profissional identificar as necessidades específicas do paciente, as suas limitações físicas, condições de saúde preexistentes e
possíveis contraindicações para o exercício em ambiente aquático. Além disso, a avaliação detalhada ajudará na elaboração de um plano de tratamento personalizado, ajustando as atividades aquáticas de acordo com as capacidades individuais do paciente, promovendo assim melhores resultados terapêuticos.
MITO OU VERDADE?
É preciso saber nadar para praticar fisioterapia aquática. Mito! Não é obrigatório saber nadar. No entanto, deve informar o Fisioterapeuta responsável e referir quais os seus receios relativamente à piscina. Desta forma, o profissional poderá adaptar os exercícios de forma a melhorar o seu conforto na água.
Referências:
Associação portuguesa de Fisioterapeutas: https://www.apfisio.pt/areas_intervencao/fisioterapia-aquatica/
Bravo, C., Rubí-Carnacea, F., Colomo, I. et al. Aquatic therapy improves self-reported sleep quality in fibromyalgia patients: a systematic review and meta-analysis. Sleep Breath (2023). https://doi.org/10.1007/s11325-023-02933-x
El-Tallawy, Salah N., et al. “Management of musculoskeletal pain: an update with emphasis on chronic musculoskeletal pain.” Pain and therapy 10 (2021): 181-209.
Knotkova, Helena, et al. “Neuromodulation for chronic pain.” The Lancet 397.10289 (2021): 2111-2124.
Valenzuela-Fuenzalida, Juan José, et al. “Effectiveness of aquatic exercise versus other therapeutic modalities in patients with knee osteoarthritis pain: A systematic review with meta-analysis.” (2024).