Fisioterapia Desportiva – Em que me pode ajudar?
O fisioterapeuta no desporto tem ganho muita notoriedade nos últimos anos. O seu papel passa por tratar e reabilitar atletas de todas as idades, ajudar a reduzir o risco de lesão e potenciar estratégias de recuperação após treino/jogo.
Para além disto, no desporto, o fisioterapeuta é muitas vezes o primeiro contacto do atleta com um profissional de saúde, sendo por isto de extrema importância a sua intervenção. Através da sua avaliação, tomam-se decisões acerca da continuidade, ou não, do atleta na prática desportiva, sobre a necessidade de realizar determinado tratamento ou de receber cuidados diferenciados, como a consulta médica, entre outros.
Por exemplo, no caso de um atleta que sofre uma entorse do tornozelo, o fisioterapeuta enquanto profissional de primeiro contacto, pode, através de uma rápida avaliação funcional, participar na tomada de decisão sobre o encaminhamento do atleta. Se este não conseguir dar 4 passos apoiado sobre o membro lesionado e tiver dor na palpação num destes locais: maléolo interno ou externo, navicular ou na base do 5º metatarso, deve ser encaminhado para avaliação médica pois apresenta sinais clínicos compatíveis com fratura. Nos restantes casos, o fisioterapeuta poderá dar as primeiras indicações para início da recuperação. É recomendado, nestes casos, a aplicação do protocolo “PEACE AND LOVE”:
P – proteção – evitar atividades que aumentem a dor;
E – elevação do membro;
A – Anti-inflamatórios – evitar tomar;
C – compressão;
E – educação sobre a lesão e respetivo tratamento;
L – LOAD – colocação de carga sobre o membro lesionado desde que não provoque dor;
O – otimismo;
V – vascularização – realizar atividades e movimentos indolores que vão promover a circulação;
E – exercício – restaurar mobilidade, força e controlo motor.
No âmbito do tratamento de lesões, além do tratamento de sintomas músculo-esqueléticos comuns como lombalgias e cervicalgias, a fisioterapia desportiva irá desempenhar um papel importante no tratamento de lesões osteoarticulares, como a entorse do tornozelo que, apesar de ser a lesão mais comum no desporto, não deve ser menosprezada sob perigo de se desenvolver uma instabilidade crónica. Também nas lesões osteoarticulares do joelho, nomeadamente nas reconstruções do ligamento cruzado anterior e nas suturas meniscais, observa-se um papel importantíssimo da fisioterapia desportiva, inclusive na reabilitação pré-cirúrgica, uma vez que se procura restituir a normal amplitude de movimento, força muscular e padrão de marcha, assim como, diminuir os sinais inflamatórios e sintomatologia. Isto tem um impacto muito positivo a posteriori durante o processo de reabilitação pós-cirúrgica onde, dada a sua longa duração, a intervenção vai além do controlo da sintomatologia, do desenvolvimento de força, controlo motor e mobilidade, havendo, também, uma sensibilização para a adoção de estilos de vida saudáveis.
A fisioterapia desportiva também é responsável pelo tratamento de lesões musculares, como por exemplo, das lesões da musculatura posterior da coxa que constituem uma epidemiologia no futebol, afastando os atletas da competição durante algumas semanas e nos casos em que não são bem tratadas, além do perigo de recidiva, podem influenciar negativamente a biomecânica do joelho e constituir um fator de risco de lesão. Também nas tendinopatias, como por exemplo a rotuliana que é muito comum em saltadores, a fisioterapia desportiva desempenha um papel importante na gestão da sintomatologia e consequente manutenção do atleta em competição.
Exemplo de um exercício de força que pode ser utilizado durante um processo de reabilitação.
Exemplo da avaliação do countermovement jump. Serve para guiar a intervenção do fisioterapeuta no processo de reabilitação após lesão ou para procurar fatores a melhorar para reduzir o risco de lesão.
Para além do tratamento de lesões, o fisioterapeuta desempenha um papel importante na avaliação do risco e redução do aparecimento das recidivas. Na imagem 1 observa-se uma pirâmide onde se procura organizar, por grau de importância, os principais fatores de risco para ocorrência de lesões. De forma a compreender melhor a aplicabilidade desta pirâmide, vamos utilizar como exemplo um futebolista que jogue como lateral e que tenha tido uma rutura na musculatura posterior da coxa há 1 ano, mas que se encontre a competir sem queixas. Neste caso, o atleta tem um elevado risco de voltar a lesionar esse grupo muscular, pois além da lesão prévia, joga numa posição em que necessita frequentemente de realizar sprints. Assim, o fisioterapeuta pode desempenhar um papel importante na redução do risco de voltar a ter uma recidiva naquele grupo muscular. Para isso, é necessário avaliar as capacidades atléticas como: a mobilidade da cadeia posterior, a força dos isquiotibiais e a forma como o atleta realiza sprints.
Após esta avaliação, o fisioterapeuta poderá prescrever um plano de exercício para reduzir o risco de recidiva. Este papel também poderá ser desempenhado por um preparador físico. Além disto, será importante o contacto junto da equipa técnica que trabalha com o atleta, com o intuito de analisar a volume de treino e jogo realizado, de forma a permitir o controlo da fadiga e promoção da recuperação, evitando picos de carga física que possam aumentar o risco de lesão.
Esquema hierarquizado dos fatores de risco de lesão no desporto.
Se os fatores mencionados no exemplo anterior são importantes, a recuperação dos atletas entre treinos e jogos é fundamental. Neste capítulo, o fisioterapeuta pode ajudar aplicando tratamentos passivos como massagem, pressoterapia, banhos de imersão ou através de exercício. Contudo, o que tem maior evidência para promover a recuperação é dormir, hidratar e comer bem após o exercício físico, pelo que o atleta pode beneficiar da realização de consultas do sono e de nutricionista.
Além do custo suportado pelo clube associado à lesão de um atleta, uma equipa que tenha à sua disposição os melhores jogadores para competir, estará mais perto de alcançar resultados positivos. Deste modo, a intervenção da fisioterapia desportiva pode desempenhar um papel importante, não só a ajudar os clubes a alcançarem os objetivos a que se propõem, como a promover a saúde e o bem estar dos atletas, sendo por isso mesmo, cada vez mais valorizada pelos próprios desportistas, treinadores e restante staff.