Mindfulness como ferramenta da Fisioterapia
O stress, a tensão muscular, a dor e o sistema nervoso autónomo estão todos intimamente interligados.
Primeiro, importa esclarecer a definição do sistema nervoso autónomo. Este é uma parte do sistema nervoso que funciona independentemente da nossa vontade e que regula o funcionamento dos nossos órgãos e sistemas de órgãos, mantendo o equilíbrio, em resposta a estímulos internos e externos. Este sistema divide-se nos sistemas nervoso simpático e parassimpático. O sistema nervoso simpático tem o papel de ajustar o organismo para suportar situações de perigo, esforço intenso, stress físico e mental.
Numa situação de stress, o sistema nervoso simpático é ativado, levando ao aumento da tensão muscular. Por sua vez, a tensão muscular prolongada pode resultar em dores e limitações de movimento. Paralelamente a isto, a dor aumenta o stress emocional, criando um ciclo contínuo de tensão muscular e dor. Posto isto, a adoção de estratégias, como a respiração profunda e exercícios de alongamento, podem ajudar a gerir a resposta ao stress e consequentemente reduzir o aumento da tensão muscular.
Nesse sentido, o mindfulness, também conhecido como atenção plena, pode ser eficaz na normalização da atividade do sistema nervoso autónomo e no aumento da consciência corporal.
O mindfulness, é uma prática que envolve estar presente conscientemente no momento presente. É uma forma de direcionar a atenção para a experiência presente, observando os nossos pensamentos, emoções, sensações físicas e o ambiente à nossa volta.
Ao integrar o mindfulness nas nossas sessões de fisioterapia, procuramos ajudar os pacientes a cultivar uma maior consciência do seu corpo e do momento presente, direcionando a atenção para as sensações físicas, movimentos e padrões corporais. Esta abordagem permite-nos explorar a conexão entre corpo e mente, reconhecendo que as experiências físicas estão intrinsecamente ligadas aos estados emocionais e mentais. Uma das maneiras pelas quais aplicamos o mindfulness na fisioterapia é por meio da consciencialização da respiração. Incentivamos os pacientes a direcionarem a sua atenção para a respiração durante os exercícios, ou mesmo a realizar exercícios respiratórios. Para além disto, aconselhamo-los a levar essa atenção plena para o seu quotidiano, realizando os exercícios em casa.
Este exercício de respiração promove o relaxamento físico e mental. Para realizar o exercício, siga as etapas abaixo:
1- Encontre um local calmo e confortável onde se possa sentar ou deitar;
2- Comece por inspirar suavemente pelo nariz, contando mentalmente até 6 segundos enquanto o ar entra nos pulmões;
3- Depois de ter inspirado completamente, segure o ar dentro do peito por 1 segundo. Durante esse breve intervalo, mantenha a atenção na sensação do ar no seu peito e nos benefícios que essa respiração profunda traz para o seu corpo e mente;
4- Agora, expire o ar pela boca de forma lenta e controlada. Conte mentalmente até 8 segundos enquanto solta o ar dos pulmões. Concentre-se em libertar todas as tensões e preocupações à medida que o ar deixa o seu corpo;
5- Após exalar completamente, espere por um breve momento antes de começar uma nova inspiração. Sinta a pausa entre as respirações e esteja presente no momento;
6- Repita esse ciclo de respiração por pelo menos cinco vezes, ou quantas vezes forem necessárias para se sentir mais relaxado e calmo.
A prática do mindfulness também desempenha um papel crucial na gestão da dor. Ao cultivar a atenção plena, ajudamos os pacientes a direcionar a sua atenção para as sensações físicas presentes, permitindo-lhes observar a dor de forma mais objetiva, sem reações automáticas de aversão ou sofrimento. Isso pode reduzir a intensidade da dor percebida e aumentar a capacidade de lidar com ela de forma mais adaptativa.
Já existem até estudos que demonstram que a combinação de fisioterapia com mindfulness pode resultar em melhorias significativas na mobilidade, no equilíbrio, na dor e na qualidade de vida, em geral, dos pacientes. Como fisioterapeutas, procuramos proporcionar um ambiente terapêutico seguro e acolhedor, onde os pacientes possam conectar-se consigo, desenvolver habilidades de autorregulação emocional e melhorar a sua capacidade de lidar com os desafios físicos e emocionais.
O mindfulness é, por isso, uma ferramenta valiosa, que nos permite, simultaneamente ampliar as nossas práticas e oferecer aos pacientes uma abordagem holística de cuidado. A sua integração na fisioterapia permite-nos oferecer aos nossos pacientes uma abordagem mais abrangente e humanizada, reconhecendo que o processo de cura envolve não apenas o corpo físico, mas também a mente e as emoções.
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