Recuperar o movimento, restaurar a qualidade de vida: a fisioterapia no tumor cerebral
Os tumores cerebrais primários malignos são uma das principais causas de morte por cancro nas crianças e jovens adultos. Em adultos, os glioblastomas, os tumores cerebrais primários mais comuns, permanecem uniformemente letais, com uma sobrevida média inferior a 21 meses, apesar da resseção cirúrgica, radioterapia, quimioterapia e abordagens inovadoras como os “tumour-treating fields”.
O local e as caraterísticas do tumor são um fator importante na determinação do estado funcional do paciente. Cada área do nosso cérebro é responsável por desempenhar determinada função, por este motivo, as alterações sensoriomotoras que aparecem nas pessoas com tumor cerebral, variam de caso para caso. Por exemplo, um tumor localizado no cerebelo pode causar alterações relacionadas com a coordenação motora e equilíbrio, enquanto um tumor localizado no lobo parietal é expectável que afete a integração sensorial e a perceção do corpo no espaço.
Contudo, é importante salientar que, o Sistema Nervoso é extremamente complexo e a interconexão entre as diferentes regiões do cérebro pode resultar em sintomas variados e para além do expectado, mesmo quando o tumor está localizado numa zona específica.
Por outro lado, pacientes com tumores benignos ou malignos têm necessidades similares na reabilitação. Um tumor localizado no Sistema Nervoso Central (SNC), independentemente de ser benigno ou maligno, pode originar défices motores, incluindo fraqueza unilateral ou bilateral, ataxia, espasticidade, perda da capacidade de execução de movimentos complexos, entre outros.
As disfunções sensoriomotoras acima referidas, estão associadas a alterações e ou/compromisso da mobilidade e das atividades de vida diária (AVD´s). Surge assim, risco de complicações pela imobilidade e quedas, dor, ansiedade e/ou depressão, perda da independência funcional e redução da qualidade de vida. O compromisso da marcha é a principal razão para o início de cuidados paliativos.
É aqui que a intervenção do Fisioterapeuta é fundamental. Este foca-se na prevenção e melhoria da disfunção sensoriomotora ao longo do curso da doença, com o objetivo de limitar as comorbilidades (maioritariamente associadas à imobilidade) e preservar a qualidade de vida, tendo também um papel importante na educação dos cuidadores.
Mas a pessoa é muito mais do que as suas manifestações físicas. A componente psicológica e emocional é de extrema importância. Há uma maior predisposição destes grupos ao desenvolvimento de depressão e ansiedade. Isto está relacionado com as limitações funcionais e da participação nas atividades do dia a dia e com a falta de uma rede social. O Fisioterapeuta, por ser um dos profissionais que acompanha o paciente durante a progressão da doença, é muitas vezes uma fonte de apoio, podendo identificar possíveis problemas e referenciar para os profissionais mais indicados.
Para além disto, um problema comum em pacientes com tumor cerebral, é a ocorrência de sintomas como a fadiga e a baixa tolerância ao esforço. Estes sintomas podem ser causados pelos efeitos adversos do tratamento (quimioterapia, radioterapia, medicação), pelo descondicionamento físico, por problemas metabólicos, por infeções, depressões, alterações do sono e/ou fatores nutricionais. Neste sentido, é necessária e fundamental uma intervenção multidisciplinar. As várias intervenções não farmacológicas focadas na fadiga, que se mostraram eficazes na população geral de pacientes com cancro, incluem intervenções psicossociais e nutricionais, controlo da dor, higiene do sono, fisioterapia e exercício. Programas de exercício, que incluem treino de resistência e condicionamento físico, mostram-se eficazes no controlo da fadiga em paciente com tumores cerebrais.
Um plano de reabilitação inclui uma descrição clara dos compromissos, disfunções e pontos fortes do paciente, metas funcionais de curto e longo prazo e estratégias de tratamento para alcançar essas metas, assim como, a prevenção de outras complicações. Os objetivos da Fisioterapia, em pacientes com tumores cerebrais primários, incluem a prevenção de complicações secundárias, estratégias de recuperação do movimento “normal” e o ensino de estratégias compensatórias.
Referências:
Kushner, D. S., & Amidei, C. (2015). Rehabilitation of motor dysfunction in primary brain tumor patients. Neuro-Oncology Practice, 2(4), 185–191. doi:10.1093/nop/npv019
Krajewski S, Furtak J, Zawadka-Kunikowska M, Kachelski M, Birski M, Harat M. Comparison of the Functional State and Motor Skills of Patients after Cerebral Hemisphere, Ventricular System, and Cerebellopontine Angle Tumor Surgery. Int J Environ Res Public Health. 2022 Feb 17;19(4):2308. doi: 10.3390/ijerph19042308. PMID: 35206503; PMCID: PMC8871731.
Neuro-Oncology Practice 187 by guest on January 6, 2016http://nop.oxfordjournals.org/