
Fratura da anca no idoso: prevenir, operar e reabilitar

Estima-se que, a nível mundial, ocorram mais de seis milhões de fraturas da anca por ano. Este número, que deverá aumentar significativamente nas próximas décadas, é impulsionado pelo envelhecimento global da população e por mudanças nos estilos de vida. Nos idosos, diversos fatores aumentam o risco destas fraturas, destacando-se a osteoporose, a idade avançada, o sedentarismo e os ambientes domésticos que não garantem segurança.

Figura 1 – Exemplo de fixação cirúrgica após fratura.
Por sua parte, a osteoporose representa um fator de risco importante, pois é a doença metabólica óssea mais comum e a principal causa de fraturas em pessoas com mais de 50 anos. Embora as fraturas da anca representem apenas cerca de 20% de todas as fraturas osteoporóticas, estas são as mais graves, dispendiosas e com maior impacto funcional e prognóstico vital.
É importante referir que cerca de 20% das pessoas com fratura da anca morrem no primeiro ano após a lesão e cerca de 50% sofrem um declínio significativo na sua saúde e qualidade de vida.
Perante este cenário, a prevenção é essencial, começando pela sensibilização para a prática regular de exercício físico ao longo da vida. Mesmo em idades avançadas, programas de treino específicos, como o reforço muscular e o treino da marcha, estão associados a um menor risco de quedas e fraturas. Idosos fisicamente ativos mantêm melhor equilíbrio, força, coordenação e densidade óssea, sendo estes fatores cruciais para evitar lesões. Paralelamente a isto, a promoção de ambientes domésticos seguros, com boa iluminação e sem tapetes ou objetos soltos, é igualmente determinante.
Quando ocorre uma fratura, o tratamento imediato é, na maior parte das vezes, cirúrgico. Havendo critério e indicação para cirurgia, uma avaliação médica pré-operatória adequada irá permitir um correto conhecimento do estado geral de saúde do paciente, sendo este um fator que contribui para a redução de complicações pós-cirúrgicas.
Nas primeiras semanas após a cirurgia, os doentes podem perder mais de metade da força muscular no membro operado. É por isto que a reabilitação precoce é fundamental para restaurar a mobilidade, melhorar a funcionalidade e evitar a perda de independência. Importa destacar que uma melhor recuperação implica a aplicação precoce de carga no membro afetado e o fortalecimento muscular, sempre que as condições clínicas do paciente o permitam.
Apesar de ainda não existir um protocolo universal e baseado em evidência que defina o percurso e a duração ideal de reabilitação após este tipo de fratura, a avaliação funcional feita pelo fisioterapeuta — através de escalas de mobilidade e desempenho — é uma ferramenta valiosa para prever a evolução do doente e adaptar o tratamento às suas necessidades.
Num contexto de aumento da esperança média de vida, o papel da fisioterapia e das especialidades médicas é fundamental na prevenção, no tratamento e na recuperação dos idosos, de forma a promover um envelhecimento ativo e saudável.
Referências:
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