Cuidar do corpo após o cancro da mama: o papel da fisioterapia

Cancro e Fisioterapia na Fisiomanual em Aveiro

Cuidar do corpo após o cancro da mama: o papel da fisioterapia

Yanina Alves, fisioterapeuta e coordenadora

Outubro é o mês dedicado à sensibilização para o cancro da mama. Para muitas mulheres, o tratamento é um percurso longo que pode incluir várias intervenções terapêuticas que incluem, entre outras, a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia e as terapias hormonais. Cada etapa traz mudanças específicas para o corpo e a fisioterapia assume, nos vários momentos, um papel determinante.

Após o diagnóstico, é delineado pela equipa médica um plano de tratamento adaptado às características específicas do tipo de lesão. Inicia-se então a jornada de tratamentos que, muitas vezes, se pode prolongar durante anos.

Para além dos efeitos locais dos tratamentos mais direcionados, como a cirurgia ou a radioterapia — que podem provocar alterações significativas na mobilidade dos tecidos e articulações, bem como no estado da pele — existem ainda os efeitos das terapêuticas sistémicas, que se fazem sentir em todo o organismo. Entre os efeitos secundários mais frequentes destas terapias encontram-se a fadiga intensa, a perda de força muscular, a rigidez articular, as alterações do equilíbrio, a dor musculoesquelética e a neuropatia periférica (formigueiros ou dormência nas mãos e nos pés). No caso de algumas terapias hormonais, podem surgir também ondas de calor, rigidez matinal e alterações na densidade óssea. Estes sintomas não são apenas incómodos: podem limitar a autonomia e atrasar a recuperação funcional e ter um impacto muito negativo na qualidade de vida das pessoas, levando, em alguns casos a abandono do tratamento.

A evidência científica demonstra que programas de exercício supervisionado — realizados de forma segura durante e após os tratamentos — reduzem a fadiga, melhoram a força e a capacidade funcional, mantêm a densidade óssea e diminuem o impacto das neuropatias periféricas. O fisioterapeuta, em contexto de equipa multidisciplinar, é um dos profissionais indicado para avaliar cada caso e prescrever exercício adaptado, com intensidade e progressão ajustadas à fase do tratamento.

Para além do exercício, a fisioterapia pode incluir técnicas para aliviar a dor, melhorar a mobilidade articular global, fortalecer a componente muscular, prevenir quedas, melhorar hábitos posturais e gerir as neuropatias e a fadiga no dia-a-dia. Este acompanhamento permite que a mulher mantenha maior independência, melhore a sua funcionalidade e, consequentemente, a sua qualidade de vida.

É importante referir que, mesmo não havendo possibilidade de fazer um acompanhamento profissional, pequenas alterações nos hábitos diários — como caminhar regularmente, fazer alongamentos suaves, manter uma boa hidratação, descansar de forma adequada e organizar pausas ao longo do dia — podem contribuir de forma significativa para o bem-estar físico e emocional.

Cuidar da saúde física e emocional durante o tratamento, dentro das possibilidades e limitações de cada um, é parte essencial da recuperação e ajuda cada pessoa a sentir-se mais preparada para enfrentar cada etapa, contribuindo para uma melhor qualidade de vida.

Referências:

Joaquim, Ana, et al. “Impact of physical exercise programs in breast cancer survivors on health-related quality of life, physical fitness, and body composition: evidence from systematic reviews and meta-analyses.” Frontiers in oncology 12 (2022): 955505.

Peddie, Nicola, et al. “The impact of medication side effects on adherence and persistence to hormone therapy in breast cancer survivors: a qualitative systematic review and thematic synthesis.” The Breast 58 (2021): 147-159.

Rock, Cheryl L., et al. “American Cancer Society nutrition and physical activity guideline for cancer survivors.” CA: a cancer journal for clinicians 72.3 (2022): 230-262.



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