
Bruxismo: O Ranger de Dentes que pode Afectar a Sua Saúde.

Iolanda_Silva_Fisioterapeuta na Fisiomanual em Aveiro
Já alguma vez acordou com dores na mandibula ou notou os seus dentes mais desgastados? O que pode parecer um pequeno incómodo nocturno pode, na verdade, ser um sinal de bruxismo – um distúrbio caracterizado pelo ranger ou apertar excessivo dos dentes, especialmente durante o sono. Clinicamente pode ser definido como uma actividade repetitiva dos músculos mastigatórios, caracterizada pelo apertar ou ranger dos dentes e/ou pela rigidez da mandíbula, resultando num contacto forçado entre as superfícies de mordida dos dentes maxilares e mandibulares. Trata-se de uma condição muitas vezes silenciosa e negligenciada, mas de elevada importância. Os sintomas podem ocorrer durante a vigília ou durante o sono.
Apesar de não estar claramente identificada uma única causa, acredita-se ser uma condição regulada pelo Sistema Nervoso Central (SNC) e que pode estar associada a diversas condições médicas subjacentes, como é o caso da Apneia Obstrutiva do Sono ou a Síndrome de Down. Também pode ocorrer como efeito secundário de alguns medicamentos ou simplesmente como consequência do stress e ansiedade, onde se verifica um aumento do estado de alerta.
Assim, como outras disfunções da oclusão dentária, também o Bruxismo pode causar desgaste do esmalte e dos próprios dentes, aumento da sensibilidade dentária, desconforto em alguns movimentos, dores de cabeça, fadiga sobre a face (principalmente sobre a manhã) e problemas na articulação temporomandibular (ATM), resultando na limitação dos movimentos normais desta articulação.
Por sua vez, a oclusão dentária está associada à relação funcional entre os dentes, as gengivas, a ATM e todos os restantes componentes deste sistema. Manter o equilíbrio é essencial para a mastigação, a deglutição e a fonética.
O diagnóstico é feito através de dois métodos:
- Não instrumental: baseado na descrição dos sintomas pelo paciente, questionários, histórico médico e exames clínicos.
- Instrumental: através de eletromiografia (EMG) e polissonografia, que identificam a atividade muscular durante o sono, além de confirmar a ausência de atividade epilética associada.

O tratamento e controlo desta condição tem uma abordagem multifactorial e pode incluir diversas opções terapêuticas, tais como:
• Terapia educacional: orientação ao paciente sobre hábitos prejudiciais (transversal aos diversos profissionais de saúde desta área de actuação)
• Biofeedback: técnica para ajudar a controlar a atividade muscular (abordagem da fisioterapia)
• Exercícios de relaxamento muscular: práticas para reduzir a tensão nos músculos mastigatórios (abordagem da fisioterapia)
• Terapia com goteiras oclusais: uso de dispositivos para proteger os dentes e aliviar a pressão na mandíbula (abordagem da medicina dentária)
• Medicações de curto prazo: uso controlado de medicamentos para alívio dos sintomas (abordagem médica)
• Injecções de toxina botúlica: relaxamento dos músculos mastigatórios por meio de aplicações de botox (abordagem da medicina dentária)
• Psicoterapia: estratégias para redução do stress, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, hipnose (abordagem da psicologia)
• Electroestimulação: uso de técnicas baseadas em estímulos elétricos para controle muscular (abordagem da fisioterapia)
• Correcção de distúrbios posturais e funcionais: ajustes funcionais para melhorar a biomecânica da mandíbula (abordagem da fisioterapia)
A fisioterapia desempenha, por isso, um papel importante no tratamento através da sua relação com a biomecânica articular, possibilitando o relaxamento e a reeducação dos músculos que envolvem a articulação e, sempre que necessário, realizando em paralelo um trabalho de reeducação postural que irá melhorar não só a função de oclusão, mas também o controlo da respiração.
A avaliação da postura corporal e da biomecânica da ATM são essenciais para uma boa intervenção. A Fisioterapia recorre maioritariamente a Técnicas de Terapia Manual que permitem trabalhar a região orofacial, a cabeça e a coluna cervical de modo a restaurar e optimizar a função da ATM.
O que mais pode ajudar?
Recomenda-se que o paciente pratique regularmente atividades físicas, mantenha o equilíbrio muscular e articular (postura correta), evite mascar chicletes, evite apertar os dentes e mantenha uma respiração nasal adequada com a língua em posição correta.Também é indicado o uso de técnicas físicas de autorregulação. O objectivo deste método é promover mudanças fisiológicas que reduzam a dor, a fadiga e a sobrecarga física.
Além disso, recomenda-se a prática de uma boa higiene do sono, a utilização de técnicas de relaxamento antes de dormir e a redução do consumo de cafeína, ainda que o seu efeito terapêutico não esteja claramente comprovado.
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