
Doenças Reumáticas. A fisioterapia como aliada no alívio da dor.

Ontem assinalou-se o Dia Mundial das Doenças Reumáticas, as quais afetam milhões de pessoas em todo o mundo. Têm uma prevalência na população geral que varia entre os 9.8% e os 33.2% e representam 15% a 45% de todas as queixas dos pacientes nos cuidados de saúde primários. Neste dia, visa-se aumentar a consciencialização sobre estas condições que englobam um conjunto muito amplo de patologias, localizadas ou sistémicas, que afetam o sistema musculoesquelético, entre as quais podemos referir a artrite reumatoide, a osteoartrite, a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, entre outras. Estas condições caracterizam-se, frequentemente, por dor crónica e perda de mobilidade, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes e representando uma sobrecarga para os sistemas de cuidados de saúde primários.
Um dos sintomas mais comuns nas doenças reumáticas é a dor. Nesse sentido, urge compreender os seus mecanismos de ação. A dor nestas condições tem sido, tradicionalmente, caraterizada como resultante de processos inflamatórios e degenerativos que afetam as articulações, as estruturas musculo-tendinosas e os tecidos capsulares e ligamentares adjacentes às articulações. Contudo, apesar dos avanços importantes na terapêutica para controlo da inflamação, esta abordagem não é suficiente. Percebe-se agora que a dor é mais complexa e que pode também ter uma componente neuropática, decorrente da irritabilidade do sistema nervoso periférico, e uma componente nociplástica, decorrente de uma sensibilização do processamentosensorial no sistema nervoso central, um fenómeno onde o sistema nervoso se torna mais sensível aos estímulos dolorosos, alterando o limiar da dor e contribuindo para a perpetuação da dor crónica.
A fisioterapia desempenha assim, em cooperação com a abordagem médica e farmacológica, um papel fundamental na gestão das várias componentes da dor e, consequentemente, na melhoria da funcionalidade, com várias intervenções baseadas em evidência científica a mostrarem benefícios significativos para os pacientes com doenças reumáticas.
Dentre as várias abordagens disponíveis, o exercício terapêutico é crucial para manter a mobilidade e reduzir a dor. Programas de exercício aeróbico, como por exemplo a fisioterapia aquática, associados ao fortalecimento e alongamento muscular, têm-se mostrado particularmente eficazes no alívio da dor e na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Associado a isto, técnicas de mobilização e manipulação articular complementadas com modalidades físicas como a eletroterapia e a neuromodulação, ajudam a potencializar o efeito do exercício, reduzindo a hipersensibilização do sistema nervoso e normalizando o limiar de perceção da dor.
No âmbito do Dia Mundial das Doenças Reumáticas, é importante alertar para a importância da compreensão da dor em todas as suas componentes e do reconhecimento da necessidade de um tratamento integrado e individualizado, que inclua a fisioterapia como parte fulcral da reabilitação, permitindo que os pacientes recuperem a sua funcionalidade e autonomia.
Referências:
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