Cancro da Mama:Cuidar das Cicatrizes e Recuperar o Movimento
Quase a finalizar o mês de outubro, não é tarde para destacar a importância deste que é o mês dedicado ao cancro da mama. O Outubro Rosa, um movimento que nasceu nos Estados Unidos, na década de 90, e que se estendeu posteriormente para o resto do mundo, mantendo-se ativo até aos dias de hoje, foi criado com o intuito de mobilizar a sociedade para a luta contra o cancro da mama e de reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença. Para além disto, este movimento tem servido para apoiar a investigação científica nesta área, alertando a comunidade para os desafios enfrentados pelas pessoas após o diagnóstico e tratamento da doença.
Em Portugal, anualmente são detetados cerca de 9000 novos casos. Após diagnóstico, a avaliação e acompanhamento do paciente devem ser feitos em equipa multidisciplinar. Para além do desenvolvimento do plano de tratamento pelas equipas médicas, a reabilitação física e o acompanhamento emocional são também pilares fundamentais na recuperação da doença já que esta tem um impacto importante na qualidade de vida e na imagem corporal dos pacientes.
Nos casos em que existe indicação cirúrgica, seja mastectomia ou tumorectomia, verificam-se, com frequência, após o procedimento, não só alterações na mobilidade do braço devido à perda de mobilidade do ombro, mas também dificuldades na cicatrização dos tecidos e a formação de edemas. As cicatrizes pós-cirúrgicas tornam-se, com alguma frequência, rígidas e aderentes aos tecidos subjacentes, podendo causar dor ou desconforto ao longo do tempo. Para além disto, surgem, por vezes, dores noutras partes do corpo (p.e região dorsal) devido às alterações posturais decorrentes do encurtamento dos tecidos. A fisioterapia intervém precocemente neste processo, através de técnicas específicas de mobilização de cicatrizes, que ajudam a suavizar os tecidos, aumentar a sua flexibilidade e prevenir a formação de aderências que possam limitar o movimento e provocar alterações posturais. Ao promover a mobilidade do tecido cicatricial, é possível reduzir a sensação de tensão e melhorar a amplitude de movimento, permitindo que as pessoas recuperem a confiança nas suas atividades do dia-a-dia, preparando-as também para eventuais procedimentos de reconstrução no futuro.
Outro aspeto fundamental na recuperação após a cirurgia é a drenagem dos tecidos na região da mama para ajudar a acelerar o processo de cicatrização, melhorando também o conforto do paciente. Por vezes, nos procedimentos cirúrgicos, existe necessidade de remover alguns gânglios linfáticos, na região axilar. Isto pode levar ao desenvolvimento de linfedema, um inchaço que resulta da acumulação de líquido linfático nos braços e tronco. A drenagem linfática manual, uma técnica especializada da fisioterapia, é crucial para prevenir e tratar este problema, ajudando a melhorar a circulação dos fluidos e a reduzir o desconforto. Esta técnica é realizada através de movimentos suaves e ritmados que estimulam o sistema linfático a drenar os líquidos acumulados, reduzindo o inchaço, promovendo uma sensação de alívio e contribuindo para a recuperação mais rápida e a redução do risco de complicações a longo prazo.
Estudos recentes evidenciam que a combinação de técnicas de mobilização de cicatrizes e drenagem linfática manual no acompanhamento pós-cirúrgico está associada a uma redução significativa da dor, melhoria da mobilidade e melhor qualidade de vida. Assim, os pacientes que integram estas intervenções no seu plano de reabilitação têm menos probabilidade de desenvolver limitações funcionais e conseguem retomar as suas atividades diárias de forma mais confortável e confiante.
Sendo uma patologia multifatorial, é fundamental destacar a importância de uma intervenção multidisciplinar que visa o acompanhamento de forma global do paciente, tendo como foco, para além da cura, a melhoria da sua qualidade de vida e da autoimagem corporal. Se sente que precisa de ajuda, ou se conhece alguém que precise, fale com um profissional qualificado para um aconselhamento personalizado.
Referências:
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