
Movimento é Vida: Envelhecer ativamente e com qualidade.

Globalmente, as mudanças demográficas estão a transformar a composição da população mundial, que se está a tornar cada vez mais envelhecida. Nos últimos 50 anos, o número de adultos com mais de 65 anos triplicou, e estima-se que, até 2050, um em cada quatro indivíduos no mundo venha a pertencer a esta faixa etária, representando 25% da população global. No caso de Portugal, em 2024 a população idosa já representava 24% da população, sendo, a par da Itália, o país mais envelhecido da União Europeia (UE).
Apesar dos avanços na medicina, nos cuidados de saúde e nas condições socioeconómicas, uma esperança média de vida mais longa não está necessariamente ligada a uma melhoria do estado de saúde geral. Isto acontece porque à medida que os anos passam, ocorrem, naturalmente, alterações estruturais e sistémicas no nosso organismo que implicam um deterioro no estado de saúde geral, que se pode traduzir no desenvolvimento de patologias crónicas e em disfunções físicas como: perda de força, dificuldades no equilíbrio, dores crónicas e perda de mobilidade.
Envelhecer é inevitável, mas perder autonomia não precisa de ser. Surge então o exercício físico como aliado inegável para reduzir e reverter algumas sequelas do envelhecimento. A evidência científica sugere-nos que, o exercício físico desempenha um papel crucial na manutenção das funções físicas e cognitivas em idosos. Assim, programas de exercícios adaptados às condições específicas de saúde dos indivíduos que incluem exercícios de resistência cardiovascular aliados a exercícios de força, podem melhorar significativamente a qualidade de vida e reduzir o risco de declínio das funções físicas e cognitivas nesta população.
Com uma prática regular e consistente de exercício físico, é possível reduzir o risco do surgimento de doenças crónicas sistémicas (p.e diabetes tipo 2, doenças cardíacas) e doenças neurodegenerativas (p.e Alzheimer). Para além disso, é também possível prevenir a perda de massa óssea e muscular, reduzindo significativamente o risco de quedas através da melhoria da força, do equilíbrio e da mobilidade. De notar que, a prática do exercício tem um impacto muito positivo na saúde mental através da redução dos níveis de stress e ansiedade.
É importante referir que, cada caso é um caso e que a prática de exercício em idades mais avançadas deve ser cuidadosamente adaptada às limitações físicas e funcionais existentes. Devemos, contudo, desmistificar a crença de que existe uma idade limite para a prática de determinadas atividades e que os idosos, de forma geral, não devem praticar certos exercícios, como por exemplo, o treino de força com cargas, isto porque, está provado que este é parte fundamental num planeamento de treino eficaz e completo. Nesse sentido, importa destacar a importância de uma avaliação e acompanhamento multidisciplinar, em que o fisioterapeuta tem um papel crucial no desenvolvimento de adaptações funcionais, no aconselhamento de atividades que mais se adequem às limitações físicas pré-existentes e no acompanhamento de possíveis disfunções que possam surgir ao longo do tempo.
A chave de um envelhecimento ativo e com qualidade de vida está na prática consistente e regular de exercício e num acompanhamento multidisciplinar adequado, adaptado às necessidades de cada um.
Referências
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