Cancro da mama e o papel da fisioterapia

fisioterapia no cancro da mama

Cancro da mama e o papel da fisioterapia

Yanina Alves, fisioterapeuta e coordenadora

Hoje, 19 de outubro, Dia Internacional do cancro da mama, trazemos a nossa visão, do ponto de vista da fisioterapia, sobre a relação com a doença e o caminho para a qualidade de vida.

Em Portugal são diagnosticados, anualmente, cerca de 7000 casos de cancro da mama, sendo este o cancro mais comum entre as mulheres. A sua incidência tem aumentado nos últimos anos, mas as taxas de mortalidade têm mantido, felizmente, uma tendência decrescente.

O impacto no bem-estar físico e mental, na perceção da imagem corporal e na vida sexual do paciente é muito elevado, pelo que é fundamental que este seja acompanhado de perto por uma equipa multidisciplinar ao longo das várias fases da doença.

A maioria das pessoas diagnosticadas com cancro da mama serão submetidas a cirurgia à mama e axila, com muitas a necessitar também de tratamento por radioterapia, quimioterapia, entre outros. E estes tratamentos, muitas vezes prolongados, podem afetar os músculos, nervos e vasos linfáticos, resultando em: redução da amplitude de movimento do ombro do lado afetado, perda de mobilidade torácica, perda de força, disfunções respiratórias, dor persistente, fadiga, alterações da sensibilidade, edema linfático do braço, seromas, entre outros. Todas estas alterações afetam frequentemente as atividades do dia-a-dia do paciente e, consequentemente, a sua qualidade de vida.

Fase aguda e subaguda pós-operatória
Tanto na cirurgia conservadora como na mastectomia e na cirurgia de reconstrução, e ao longo de todo o processo da doença, a avaliação funcional do fisioterapeuta será fulcral na identificação das disfunções acima referidas. A partir daí será capaz de desenvolver um plano de reabilitação adaptado e flexível para o tratamento das alterações músculo-esqueléticas observadas e prevenção do surgimento de disfunções futuras. 

Principais efeitos secundários
Os efeitos secundários relatados com maior frequência após o tratamento para o cancro da mama são a dor e a disfunção articular do ombro e é sobre eles que nos vamos debruçar. É aceite pela comunidade científica que o tratamento de fisioterapia, através de exercícios específicos de mobilidade, fortalecimento e flexibilidade associados a técnicas de mobilização dos tecidos, da cicatriz cirúrgica e da articulação do ombro, são uma grande mais-valia na redução da dor músculo-esquelética e da disfunção da mobilidade.

Nesse sentido, fiéis à premissa de que cada caso é um caso e que cada paciente evolui ao seu ritmo, de acordo com as suas limitações, aconselhamos alguns exercícios de mobilidade e flexibilidade que irão melhorar a qualidade de vida do paciente no seu dia-a-dia, através de uma melhoria da mobilidade e da diminuição da dor:

(Importa relembrar que os exercícios devem ser feitos respeitando o limiar de conforto e do cansaço.)

  1. Com as mãos colocadas atrás da nuca, no momento da inspiração afastamos os cotovelos um do outro e expandimos a caixa torácica. Voltamos à posição inicial durante a expiração. 10 Repetições;
  2. Colocando as mãos numa superfície estável, dobramos o tronco à frente e esticamos o máximo que conseguirmos os braços à frente. Mantemos a posição por 20 segundos;
  3. Colocando a mão direita na orelha esquerda, puxamos a cabeça para o lado direito e mantemos a posição 20 segundos. Repetimos o mesmo movimento para o outro lado. 
  4. Com os braços esticados à frente, no momento da inspiração, levamos as mãos em direção ao teto, descemos os braços durante a expiração. 10 repetições;
  5. Com os braços esticados à frente, cruzamos as mãos e tentamos afastar o máximo que conseguirmos as omoplatas uma da outra. 10 repetições;
  6. De joelhos, sentados em cima dos nossos pés e deslizamos as mãos para a frente pelo chão até as afastarmos o máximo que conseguirmos. Mantemos a posição 20 segundos.

Referências 
Giacalone, Andrea, Paola Alessandria, and Enzo Ruberti. “The physiotherapy intervention for shoulder pain in patients treated for breast cancer: Systematic review.” Cureus 11.12 (2019).
Khan, Kamran Ahmad, et al. “Systematic review of economic evaluations of exercise and physiotherapy for patients treated for breast cancer.” Breast cancer research and treatment 176.1 (2019): 37-52.
Lee, K., Kruper, L., Dieli-Conwright, C.M. et al. “The Impact of Obesity on Breast Cancer Diagnosis and Treatment”. Current Oncology Reports 21, 41 (2019). 
OECD/European Observatory on Health Systems and Policies (2021), Portugal: Perfil de Saúde do País 2021, OECD Publishing, Paris, https://doi.org/10.1787/766c3111-pt. 
Rizzi, Samantha Karlla & Haddad, Cinira & Santolia, Patricia & Pinheiro, Thaís & Nazário, Afonso & Facina, Gil. “Winged scapula incidence and upper limb morbidity after surgery for breast cancer with axillary dissection”. Supportive Care in Cancer. 24. (2016)
Rockson, Stanley G. “Lymphedema after breast cancer treatment.” New England Journal of Medicine 379.20 (2018): 1937-1944.

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