Ombro congelado. Uma condição pouco conhecida, mas muito limitativa.
Se sente dor aguda no ombro, acompanhado por diminuição gradual e progressiva na mobilidade, sobretudo na flexão (levar o braço para cima, p.e. ir buscar algo num armário elevado) e na rotação externa (rodar o braço para fora, p.e. vestir a manga do casaco), este artigo pode ser um guia informativo importante para si.
Estes sintomas podem indicar que estamos perante uma Capsulite Retrátil ou também denominado como “Ombro Congelado”. É uma condição física que afeta o complexo articular do ombro e que se caracteriza por dor aguda e forte, de início súbito ou insidioso e perda progressiva e significativa da mobilidade da articulação. Isto acontece devido ao desenvolvimento de um processo inflamatório severo que provoca contratura e fibrose na cápsula articular, que é uma estrutura fina e elástica que protege a articulação gleno-umeral, cuja função é permitir a congruência, estabilidade e correta funcionalidade da mesma.
A verdadeira causa para esta disfunção ainda é desconhecida. No entanto, sabemos que:
- Ocorre maioritariamente entre os 40 e os 60 anos;
- Tem maior incidência em pessoas do sexo feminino;
- É duas vezes mais provável de ocorrer em pessoas que sofrem de diabetes;
- Pode ocorrer associado processos inflamatórios por traumas repetidos no ombro (p.e. prática desportiva) ou na sequência de imobilização prolongada do ombro.
A Capsulite Retrátil é reconhecida pelas unidades de reabilitação do ombro como uma disfunção bastante complexa com um longo período para tratamento e recuperação. É um verdadeiro desafio para o corpo clínico e para o paciente e cujo plano de reabilitação, cuidado e rigoroso, pode durar entre 9 a 12 meses.
Para um correto diagnóstico, estes sintomas devem ser avaliados por uma equipa multidisciplinar composta por médicos e fisioterapeutas especializados no tratamento do ombro. Estes vão avaliar o estado funcional da articulação e a sua capacidade muscular. Para alem disto, a realização de testes físicos ortopédicos e exames complementares, tais como raio-x, ecografia aos tecidos moles e ressonância magnética são também ferramentas importantes para se estabelecer um correto e eficaz ponto de partida para um plano de recuperação.
Assim, para melhor compreensão dos sinais e sintomas podemos referir que o ombro congelado normalmente evolui o seu comportamento em 3 fases:
1ª Fase: Pré-Congelamento – duração de 6 a 8 semanas após início dos sintomas;
- Dor intensa que piora com movimento;
- Diminuição da capacidade para movimentar articulação do ombro;
- Aumento gradual da rigidez;
2ª Fase: Congelamento – duração de 4 a 6 meses após início dos sintomas;
- Dor diminui com maior tolerância noturna;
- Aumento da rigidez na articulação;
- Amplitudes de movimento significativamente reduzidas;
3ª Fase: Descongelamento – duração de 6 a 12 meses após início dos sintomas
- Diminuição integral da dor;
- Aumento gradual das amplitudes articulares com capacidade de movimento;
- Retorno à normalidade e funcionalidade nas tarefas de vida diária;
Para o sucesso da recuperação é necessário que o paciente tenha consciência de que o tratamento é um processo de longa duração. Apesar disto, a grande maioria dos casos apresenta alta taxa de sucesso na sua recuperação. Para tal, a fisioterapia é um fator extremamente importante. Com recurso à terapia manual e à execução de exercícios articulares e musculares corretamente administrados, os fisioterapeutas tornam-se numa mais-valia para o programa de recuperação. O comprometimento pessoal do paciente e o trabalho de casa diário são também fatores preponderantes e essenciais para o sucesso do processo de recuperação. Apenas em última instância e em casos raros é que a cirurgia é aconselhada.
No entanto, e tal como diz o ditado popular “prevenir é melhor que remediar”, de forma a tentar evitar o aparecimento desta disfunção, procure na atividade física a melhor prevenção. É importante realizar, de forma periódica e regular, exercícios de mobilidade articular do ombro e exercícios de fortalecimento muscular. Procure realizar, de forma autónoma, as tarefas físicas com cuidado e dentro dos limites da dor e evite movimentos repetitivos, por longos períodos, que possam provocar sobrecarga da articulação.
Caso tenha algum sintoma, consultar um fisioterapeuta de forma atempada que poderá ajudar de forma segura a evitar o agravamento do quadro clínico e o surgimento do ombro congelado.
Referências:
“Ombro Congelado: Uma Revisão da Literatura” por J. A. D. Magee et al. (2019).
“Tratamento do Ombro Congelado: Uma Metanálise” por P. J. Millett et al. (2017).
“Fatores de Risco para Ombro Congelado: Uma Revisão Sistemática e Metanálise” por X. Zhang et al. (2016).