Tendinites e Tendinopatias. A reabilitação na perspetiva do fisioterapeuta.
Os tendões são bandas de tecido fibroso que, no sistema musculoesquelético, conectam os nossos músculos aos ossos, sendo a sua principal função transmitir a força gerada pelo músculo, permitindo o movimento das articulações.
As lesões nos tendões representam um conjunto de condições, frequentemente encontradas nos pacientes com queixas musculoesqueléticas, que afetam a qualidade de vida e a capacidade de movimento. Dentro das mais comuns, importa esclarecer, em primeira instância, a diferença entre tendinite e tendinopatia. A tendinite é uma condição aguda, caracterizada pela inflamação de um tendão, que pode ocorrer na sequência de uma lesão traumática ou devido à sobrecarga mecânica quando o tendão é submetido a esforços excessivos, repetitivos ou inadequados. Esta condição pode provocar dor, inchaço e dificuldade no movimento. No entanto, a literatura mais recente sugere que, em muitos casos, o termo “tendinite” é impreciso, já que as alterações observadas no tendão podem não envolver inflamação verdadeira, com muitos dos sintomas a perdurarem após a fase aguda. Assim, muitas vezes, estamos perante tendinopatias, onde há degeneração do tecido tendinoso, com ou sem sinais de inflamação. Estas envolvem mudanças na estrutura do tendão, o que compromete a sua resistência e flexibilidade, prolongando a dor e a perda de funcionalidade.
A abordagem às disfunções tendinosas deve ser multidisciplinar e incluir uma avaliação da força e mobilidade. Desta forma, é possível identificar possíveis padrões demovimento disfuncionais que possam estar a ocorrer no dia a dia, durante a atividade profissional ou na prática de atividades desportivas. Isto é essencial para compreender que tipo de adaptações têm de ser feitas para melhorar a biomecânica articular, de forma a reduzir a reincidência da lesão e reduzir a carga excessiva sobre os tendões afetados.
Para além disto, é fundamental restabelecer a função do tendão, um processo que pode, por vezes, ser demorado. A abordagem do fisioterapeuta pode incluir técnicas de mobilização, eletroterapia e, principalmente, exercícios específicos de fortalecimento, para melhoria da estrutura tendinosa e, consequentemente, da dor e da funcionalidade.
Para os fisioterapeutas, as disfunções tendinosas são condições que desafiam a prática clínica, exigindo uma abordagem abrangente que vai além da simples gestão da dor. Com base na evidência científica, podemos compreender melhor o que está por trás dessas condições, ajudando na reabilitação e no ensino do paciente sobre a importância da reeducação dos padrões de movimento para prevenção de novas lesões.
Mito ou Verdade: “Repouso absoluto é o melhor tratamento para a tendinopatia.”
MITO! Embora o repouso inicial seja importante para evitar o agravamento da lesão, o tratamento exige uma abordagem ativa. Programas de exercícios progressivos, especialmente exercícios excêntricos, têm demonstrado grande eficácia na recuperação de tendões, promovendo a regeneração do tecido.
Referências:
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Kongsgaard, M., et al. (2009). “The effect of eccentric training on tendinopathy: a systematic review.” Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports.
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